quarta-feira, 8 de outubro de 2014

MANIFESTO CAMISOLÃO


A profissão de professor cria estereótipos divertidíssimos ao profissional. Em T.O., um aluno certa vez me imitou de maneira magnífica e admirável (habilidade que muito admiro pelo refinado olhar observador). Como toda imitação, ele privilegiou algo corriqueiro. No meu caso, a aproximação intelectual com as teorias do sociólogo Pierre Bourdieu. Em especial ao conceito de habitus. Conceito esse que resgatarei em uma pequena análise sobre o cotidiano...
Constantemente sou chamado de camisolão, pau mandado, frouxo, entre outros termos que questionam o meu papel como o homem, o portador do falo, e portanto, do controle da relação. Em uma breve autorreflexão, responda: “quais os espaços e atribuições masculina em um relacionamento? Qual o seu papel social e íntimo?”
Em “A Dominação Masculina”, Bourdieu alerta como é produzido socialmente os elementos ou símbolos de dominação das quais conferem uma ilusão de que os homens possuem condições naturais de privilégios frente as mulheres. Ou seja, para o autor, as habilidades tidas como condicionalmente internas às mulheres, como a sensibilidade e fragilidade, são construções sociais e históricas, das quais herdadas por intermédio de ações, fala e piadas singelas que reforçam esse estigma, escondendo as relações de dominação dos agentes envolvidos.
Deste modo, o termo camisolão, pau mandado, entre outros, entrariam nesses discursos reforçador de um papel social tipicamente masculino diante das relações afetivas. Reservando ao homem ao espaço do mando, da racionalidade, enquanto para a mulher resta a condição do desejos e escolhas do homem, colocando-as de escanteio nesta rede de poder.
No dicionário tipológico masculino de Xico Sá, provavelmente o homem camisolão deve ter um altar maior, talvez seja o homem mais MACHO de todas as genealogias masculinas. O homem camisolão talvez seja aquele que de tanto amor por este ser imaculado e sublime, olha para ela com um peso de igualdade, de cumplicidade e respeito. O homem camisolão é talvez o verdadeiro macho jurubeba, que de tão macho, de tão homem, abdica de sua imagem social em prol da satisfação e respeito feminina. O pau mandado ou simplesmente HOMEM não vê na relação de igualdade uma ameaça a sua condição de “macheza”.
Na verdade o que muito me espanta não é a existência do camisolão, mas sim que em pleno século XXI, diante da diversidade de avanços e conquistas sociais, políticas e culturais, a nossa trilha sonora ainda seja Ataulfo Alves com seu clássico “Ai que saudade da Amélia”.

Camisolões de todo o mundo: UNI-VOS.


David Catalunia 08/10/2014